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Apaixonada por vôlei, Cláudia Santana Andrade, de 36 anos, e desde os 14 anos joga em times Itabuna, no Sul da Bahia. Ela já chegou até a jogar na Itália, onde morou em 2001. Claudia, na Europa, sofria por um preconceito: a altura. Era chamada de baixinha por só ter 1,75. Aqui, por sua vez, precisa encarar diariamente o preconceito por conta da sua  identidade de gênero. “Sempre gostei de jogar vôlei, jogo desde criança. Tinha vontade de ser profissional. Meu sonho é poder disputar normalmente, sem constrangimentos e sem tantas perguntas. De maneira natural, como tem que ser”, explicou a jogadora em entrevista ao Me Salte..
Em abril deste ano,  Cláudia foi impedida de disputar uma competição na cidade de Coaraci – no interior da Bahia . “Algumas competidoras espalharam pela cidade, para outras competições. Quem não sabia que eu era trans ficou sabendo, e quem sabia ficou sabendo que eu não tinha a transgenitalização”, relatou Cláudia  referindo-se à cirurgia de adequação de gênero. Ela chegou a registrar ocorrência na polícia por conta da discriminação.

Ela esclarece que, segundo determinação do Comitê Olímpico Internacional (COI), atletas transexuais podem disputar as competições seguindo o gênero que se identificam  desde que realizem exames regulares. “Meu exame de testosterona é abaixo de 1, que é o recomendado. Hoje está em  é 0,600. A competição será sempre justa”, conta Cláudia que, por medo, parou de ir nas competições.
Trajetória
Não apenas no esporte a jogadora passa por situações de preconceito. Em 1997, por exemplo, ela foi impedida de colar grau no magistério porque estava trajando roupas ditas como femininas.  “Tentei colar grau vestida de mulher, já tinha até seios, mas o diretor não deixou”, relembra. A jogadora viveu na Itália até o ano passado quando entrou no time da AABB de Itabuna. “Me inscrevi na AABB em setembro. Logo depois, tivemos alguns torneios em dezembro e janeiro. Fui campeã e melhor jogadora”, relata. Depois ela mudou de time, uma amiga dela montou o Habib Vôlei, onde atualmente a Cláudia joga.

Formada em Educação Física, Camila Habib – que é mentora do time e uma das treinadoras – explica que Cláudia é a atleta que mais se destaca nas competições. “Claudia como atleta, na minha opinião, por ter outra técnica, é a que mais se destaque no time. Ela é muito ágil nos passes, nos ataques e bloqueios e além da agilidade ela tem muita facilidade de pegar as jogadas novas que são propostas pela outra treinadora, que é quem faz as marcações dos jogos”, diz a técnica.
Segundo a treinadora, o preconceito que a atleta vem passando tem afetado todo o time, que a acolhe desde o início. “Isso  é o que está mais machucando o nosso time,  afetou muito emocionalmente a gente. Em uma competição, por exemplo, uma jogadora do time adversário que estava fora da quadra ficou gritando “coloca o homem para jogar”. Eu segurei o choro, cheguei pra ela e perguntei “Cal, você ouviu isso?”. Pedi a Deus para que ela não tivesse ouvido, nos afetou, imagina ela. Ela olhou pra mim e disse “relaxe, vá fazer seu trabalho”. É triste que nos dias de hoje tenhamos que lidar com desinformação e preconceito”, lamenta a técnica.

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